Quando eu era menino, a gente morava em um edícula nos fundos da casa de minha avó.
Assim como meus tios e tias, mamãe também havia trabalhado na Tecelagem Textilia, na Av. Celso Garcia e, mesmo tendo deixado o trabalho para dedicar-se a este velho pimpolho que acabara de nascer, nossa família continuava sendo privilegiada com a Cooperativa dos Funcionários da Textília… mesmo depois de vários anos.
Comprávamos nossos mantimentos através de uma lista enviada previamente e que, alguns dias depois, eram entregues em casa por um funcionário da Textília, que, por acaso (rs), também era parente: tio Henrique (irmão da vovó).
Dentre os mantimentos, vinham os cereais sempre pesados à granel.
Certa vez, o arroz havia terminado antes do fim do mês e vovó mandou comprar 1 quilo e meio, lá na venda do Seu José e da Dona Tereza.
Feliz da vida, fui eu o incumbido de tal tarefa…. feliz, claro, porque iria sobrar algum para o doce de abóbora.
Além disso, eu gostava de ver aqueles sacões de juta cheios de arroz, outro de feijão, outro de farinha, cujos conteúdos eram vendidos à granel… Eu gostava de afundar a mão, principalmente no sacão de feijão…..
Mas desta vez algo havia mudado.
Tive que voltar pra casa só com o dinheiro nas mãos:
– Vó !, o Seu José falou que agora o arroz, só em pacotinho de 1 quilo.
Indignada e ferida em seus brios de caipira de Piracicaba, lembro-me muito bem da vó Maria esbravejando naquele seu delicioso sotaque:
– Onde é que nós vamos parar, arroz empacotado ??!!
Querida noninha, eu queria muito que você estivesse aqui ao meu lado até hoje.
Mas, garanto, vó Maria, que a senhora não iria gostar nadinha de saber que agora eles etiquetam até as bananas.
Banana agora tem griffe !
𝓐𝓵𝓭𝓸 𝓓𝓮𝓵𝓵𝓪 𝓜𝓸𝓷𝓲𝓬𝓪
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