Ser Feliz Apenas nos Intervalos?
Vivemos num compasso de espera — como quem segura a respiração à espera do toque do sino que anuncia o recreio. Contamos as horas para as 18, os dias para o fim de semana, os meses para as férias e os anos para a aposentadoria. Como se a vida real estivesse sempre num ponto futuro, guardada num cofre que só se abre depois de muito suor, cansaço e concessão.
Mas e agora? O que fazemos com as manhãs de terça-feira, com as pausas do café, com o som da chuva na janela enquanto o mundo corre? Será que não merecemos a leveza também nas entrelinhas?
Ser feliz só nos intervalos é como assistir a um filme inteiro só pelos trailers. A existência não pode ser só um plano de fuga, uma contagem regressiva para momentos que duram pouco e custam caro. A vida acontece no meio. No meio do trânsito, da planilha, do cotidiano imperfeito.
É preciso ousar ser feliz também na rotina — sorrir com o porteiro, dançar lavando a louça, se encantar com a luz da manhã. Porque se a gente só vive pra depois, talvez nem chegue a tempo.
A felicidade não pode ser um intervalo. Ela precisa ser parte da cena.
— Aldo Della Monica
Comentários