O altar catolico, vazio entre os extremos

O altar catolico,   vazio entre os extremos

A cadeira continua lá. Bonita, de veludo, com entalhes dourados e aquela pompa de quem já viu muita coisa calada. Só que vazia. E não por falta de Papa — Francisco ainda está firme, mesmo com a idade — mas por ausência simbólica. Há um vácuo ali, um silêncio gritante entre os gritos opostos que hoje disputam a alma da Igreja.

De um lado, o tradicionalismo que endurece. Cardeais, bispos e fiéis que insistem em proteger uma doutrina como se fosse porcelana, negando qualquer possibilidade de abertura ao mundo real. De outro, os que querem ver a Igreja virar palanque progressista, bandeira arco-íris hasteada no altar, com a fé transformada em slogan.

E Francisco? No meio. Tentando traduzir o Evangelho em gestos de acolhimento, tentando dizer que Deus é mais mistério do que manual. Mas não agrada a ninguém. Os conservadores o veem como traidor; os progressistas, como morno. Ele prega o amor, e é atacado por todos os lados.

O que está em jogo, no fundo, é o mesmo espelho rachado da sociedade. A mesma lógica binária, polarizada, que empobrece qualquer debate. A Igreja, que deveria ser espaço de encontro, parece replicar a gritaria das redes sociais, onde ou você grita ou é ignorado. Onde ou você cancela ou é cancelado.

Mas talvez o problema não esteja só nos extremos. Talvez a ferida maior esteja na ausência de escuta. Porque o que Francisco propõe — uma Igreja sinodal, que caminha junto, que ouve antes de falar — exige um esforço radical: o de calar o próprio ego e dar espaço ao outro. E isso, sejamos sinceras, pouca gente quer.

Essa tensão não é nova. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja se vê dividida entre o medo de se perder e o desejo de se renovar. Mas agora, a divisão virou espetáculo. E como todo espetáculo, precisa de vilões e heróis, mesmo que isso custe a verdade.

Enquanto isso, a cadeira segue vazia. Não por falta de autoridade, mas por excesso de disputa. Cada grupo quer sentar nela, impor sua leitura, sua teologia, sua agenda. E o Papa, que deveria ser pedra de unidade, vira alvo, símbolo, troféu.

Nós, do lado de cá, observamos essa cena com os olhos marejados de quem ainda acredita que o Evangelho não é um campo de guerra, mas um convite à travessia. Uma travessia difícil, é verdade. Mas que vale cada passo quando é feita com verdade, humildade e poesia.

Talvez o trono siga vazio por um bom tempo. Talvez precise mesmo ficar assim, até que aprendamos a sentar lado a lado, em vez de brigar por quem comanda. Porque, no fim, o que sustenta a fé não é quem fala mais alto — é quem ama com mais silêncio.

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